terça-feira, 13 de março de 2012

Análise Folha de SãoPaulo, Crise da Grécia

Análise
Condições econômicas do país apontam para nova moratória no futuro próximo
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE SÃO PAULO
Políticos europeus torcem a linguagem para evitar a temível palavra que começa com a letra C, mas o que a Grécia acaba de fazer é dar um calote em sua dívida.
É o maior da história mundial -superior ao da Argentina de 2001- e o primeiro de um país da zona do euro.
O governo grego fala em sucesso e acordo histórico ao anunciar que a grande maioria dos credores privados aceitou a troca de seus títulos por outros com uma redução de mais de 50% nos valores a receber.
Mas que opção tinham? Não receber nada? Provocar a saída da Grécia da zona do euro e agravar ainda mais a situação de outros países endividados, o que acarretaria perdas maiores?
É claro que a chamada "reestruturação da dívida" (eufemismo utilizado em Atenas e Bruxelas) é melhor que um "calote desordenado".
Há, ao menos, a promessa de reaver parte do dinheiro investido.
Além disso, todo mundo já sabia que aconteceria, o que explica a calmaria no mercado financeiro.
Mas ninguém tem a ilusão de que o problema esteja resolvido, nem mesmo políticos como o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que diante das câmeras disse que uma página na crise financeira do continente foi virada.
Em campanha pela reeleição e com a França muito afetada pela estagnação econômica da Europa, é tudo o que Sarkozy gostaria que tivesse acontecido.
A realidade é que a crise grega se arrasta há mais de dois anos e está longe do fim.
Antes do "acordo", a dívida pública equivalia a mais de 160% do PIB (conjunto de riquezas do país).
Se tudo der certo, cairá para 120% até 2020. É ainda um percentual altíssimo.
A dívida era e continuará impagável devido às condições do país.
A economia encolhe há quatro anos, a arrecadação cai, o desemprego dispara e cresce o número de pessoas abaixo da linha de pobreza.
Aumentam também os protestos nas ruas contra a política de austeridade (demissões de funcionários públicos, corte de salários, aumento de impostos).
Por tudo isso, a aposta é que o país não escapará de um novo calote, sem eufemismo, num futuro próximo.

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